Orgulhosa - Autor: Antonio de Castro Alves

Comentário de José Floriano da Costa: Certa vez Castro Alves assistia a um dos bailes da embaixada no Rio de Janeiro. Ao som de uma valsa, dirigiu-se a uma dama e esta com tom impetuoso recusa-o. Castro Alves, inspirado pelo contra que acaba de levar, compôs esta poesia.

Deixa-te disso criança

Deixa de orgulho, sossega

Olha que a vida é um oceano

Por onde o acaso navega.

Hoje te ostenta nas salas

Com tuas pompas e galas

Teus nobres brasões de rainha

Amanhã talvez quem sabe

Todo esse orgulho se acabe

E seja a sorte mesquinha.

Deixa-te disso olha bem

Olha, que a sorte nega e tira

Sangue azul em vós fidalgos

Neste século é mentira.

Todos nós somos iguais

Os grandes, os imortais

Já foram plebeus com eu sou

Ouve mais esta lição!

Grande foi Victor Hugo

E grande foi Napoleão.

Que valem nobres famílias

Linhagens puras de avós

Se o sangue dos reis é o mesmo

O mesmo que corre em nós!

O que é belo, e sempre novo

É ver-se um filho do povo

Saber lutar e subir

De braços dados com a glória

Para o panteão da história

Para a glória do porvir.

Ainda a pouco pedi-te

Pedi-te para valsar

Tú, me disseste és pobre

És plebeu, não quiseste aceitar.

No entretanto ignoras

Que aquele a quem tanto adoras

Que te conquista e seduz

Embora seja da nata

Em plena figura chata

És fósforo que não dá luz.

Agora sim já é tempo

De cantar-te quem sou eu

Um jovem de vinte anos

Que se orgulha em ser plebeu.

Um batalhador que não cansa

E que ainda tem esperança

De ser mais que hoje é

Lutando pelo direito

Para esmagar o preconceito

Desta fidalguia sem fé.

De que te servem as riquezas

Se nunca podes comprar

Ainda que possuíres!

Todas as pérolas do mar.

És fidalga! eu sou poeta!

Tens dinheiro?

Eu completo a riqueza no coração

Não troco uma estrofe minha

Por um teu colar de rainha

Nem teus troféus de latão.

Por isso guardo no olhar

Com esse desdem e altivez

Rio-me tanto de ti

Que chego a chorar muitas vezes.

Claro que sim porque calculo

Não haver nada mais nulo

Na nossa vida mortal

Do que uma mulher presumida

Toda vaidosa e atrevida

Soberba, inculta e banal.

Compilada por José Floriano da Costa, com algumas diferenças em relação ao original que acreditam ser de Castro Alves, mas que afirmam ser de Trasíbulo Ferraz.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 28/11/2008
Código do texto: T1307566
Classificação de conteúdo: seguro