Faço-me amor...
Adentro em meu jogo de sons e de cores
Ressentido de amores...
No assédio das letras, envolto em tretas me reencontrei...
Entre outros atores em afetos me dei,
E os empenhei sem fatiga...
Fiz-me amor... Envenenei-me a intriga!
Simbiose ao vento forjando o momento em versos
Em prelúdios imersos,
Arrebata-me em pairar plácido novo verão,
Batizando de calor o meu chão...
Sensação indelével de renascimento!
Fiz-me amor... Dele me fiz firmamento!
Recolhi meus guardados, meus fardos, meus medos
Ouvi outros enredos invadir minha cena,
Descortinei-me em palco, em ribalta acendi...
Resgatei meu alento, de sua seiva bebi...
No evitar que a noite me adentre
Fiz-me amor... Dele fiz-me ventre!
O luar da minha rua que o eclipse da usura enlutou,
A sombria clausura deixou
De minhas colméias se evadiram os zangões...
São espumas ressequidas as débeis ambições
Suguei das lágrimas o sal e o desalento...
Fiz-me amor... E dele, sustento!
Liso espraiar banha-me a proa em vento morno...
Da esperança o retorno!
Atraem-me outros desafios, novos mergulhos no Rio...
Refrigério que enseje da alma novo cio!
Confiante adentro este momento circunspeto
Fiz-me amor... Nele fiz-me intelecto...
Tenho tudo guardado... Não é arquivo, nem é passado,
O momento presente é resultado!
Quando o sinal de inverno, de gélido planar, anuvia e congela...
Quando a fresta do coração uiva, prenuncia procela,
Só lá ouço a tormenta, não no que fio nem no que falo.
Faço-me amor... E no amor me calo!