jeito garoto
um jeito meio garoto de andar,
mas tão feminino quanto as mulheres
do cinema mudo francês;
e mais feminino ainda
depois que veio a viuvez;
não que a houvesse fragilizado tanto,
mas causara-lhe espanto
não estar mais ao lado de alguém,
que tivesse que estar sozinha
como uma mulher de verdade, talvez,
pra provar a competência que tinha
em inocentar a sua timidez,
que insistia em lhe fazer refém
de uma feminilidade além
da que agradava aos homens,
quanto mais nítidos fossem os traços
que tivessem em comum;
não era o caso de algum
tipo de análise transacional
ou morbidez anti-conjugal
(nunca extra-conjugal),
era apenas o jeito de uma mulher
que quer achar o que quer,
mas sem deixar de se perder,
sem deixar de em si reter
mais do que o essencial,
uma mulher afinal
que escolhe o talher e o avental
e leva o homem a saber
que ele é que será comido
Rio, 06/11/2008