jeito garoto

um jeito meio garoto de andar,

mas tão feminino quanto as mulheres

do cinema mudo francês;

e mais feminino ainda

depois que veio a viuvez;

não que a houvesse fragilizado tanto,

mas causara-lhe espanto

não estar mais ao lado de alguém,

que tivesse que estar sozinha

como uma mulher de verdade, talvez,

pra provar a competência que tinha

em inocentar a sua timidez,

que insistia em lhe fazer refém

de uma feminilidade além

da que agradava aos homens,

quanto mais nítidos fossem os traços

que tivessem em comum;

não era o caso de algum

tipo de análise transacional

ou morbidez anti-conjugal

(nunca extra-conjugal),

era apenas o jeito de uma mulher

que quer achar o que quer,

mas sem deixar de se perder,

sem deixar de em si reter

mais do que o essencial,

uma mulher afinal

que escolhe o talher e o avental

e leva o homem a saber

que ele é que será comido

Rio, 06/11/2008

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 27/11/2008
Código do texto: T1305696
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.