Anja e Bruxa
Caminha comigo
dia santo ou dia útil
meu lado angelical
que é como um abrigo.
Não deixa nada fútil
perturbar meu ideal.
Acorda sempre tarde
espreguiça-se e alonga
e repete os movimentos.
Se a rotina é sem arte
a luzinha boa logo aponta
para dormir os sentimentos.
À tarde, seus dedos teclam
e ditam o que devo escrever
como se fossem meus donos.
Mas quando os sinos eclodam
anunciando o entardecer
o anjinho sai. É meu abandono.
Logo me sinto agitada
e reconheço a chegada
dos cheiros das bruxarias.
Danço e canto alucinada
sem vergonha e cadenciada
rodo ao som das gritarias.
Deito-me na cama oferecida
e sei que ela dá as diretrizes
para o homem se esfregar.
Desnudo-me quase vencida
e aceito os toques e deslizes
do macho a me extasiar.
Todo final de madrugada
ouço longe a sua gargalhada
para provocar a vizinhança
que espia pela vidraça
o motivo de tanta graça
de causar inveja a criança.
Convivo com elas.
Sem briga ou atrito.
Cada uma no seu espaço.
Mudas ou tagarelas.
Em tom alto ou grito.
Deitam-se no meu braço.
A angelical cochila acarinhada.
A bruxa incendeia minha morada.
Se o ar está puro, minha anjinha.
Se o teto gira, é a vez da bruxinha.