A serpente e eu
Dar-te-ei, serpente mansa,
um beijo loucamente apaixonado
para beber no teu doce veneno
os outros venenos que trago guardado.
Do teu olhar chega-me ousando
um bote astuto, um gosto de vexame,
uma mulher vestida e um desejo nu,
uma cama bem forrada,
arestas perfumadas e um teto já com pouca luz.
Deita-se sobre mim e não descansa
à noite, pois já deixou de ser criança
para ser a outra adulta que adúltera geme
consentindo-me fazer-te uma nova fêmea
dentro de um velho desejo em mim desejado.
Dar-te-ei, mansa serpente,
a voracidade do meu corpo louco
e nada dos teus dentes aceitarei de troco
após rastejar-me em teu corpo à terra rente.