A Dança
A dança começa calma, suave.
Mãos e pés em descobrimento,
em acerto de sincronia. A música, pulsante
e forte, guia o passo vacilante da bailarina.
O toque pesa, provoca. E a dança prossegue,
sublime, ascendendo à infinitude
do prazer calculado. A música, sussurrada,
grita amores à brisa, clamando pelo culpado
daquela torpe dança. E ela cresce,
frenética, ao som da música que pulsa,
que fere e instiga a bailarina pueril.
Lembranças de outras danças.
Vontades rememoradas soam em lábios ardentes,
vivenciando um passado próximo. O aviso vem,
impotente, de uma onda que devasta.
De um desastre que eleva em meio à dança pérfida,
à performance devassa. E então o silêncio,
completo, impera sobre o corpo teso.
E a sôfrega bailarina se entrega,
pobre vítima de si mesma, à estafa do seu bailar.
A música finda.
A dança cessa.
E só restam os gemidos.
Dantescas confissões.
E o suor bento
de um pervertido amor.