ELA e ELE: NO AMOR TUDO VALE...
Dizem que Agostinho
santo bispo de Hipona
(então "Hippo Regius"
e hoje "Annaba"
no norte da África misteriosa,
Argélia, já não província da França)
pregava, com o apóstolo Paulo,
que no amor tudo vale:
«Ama e faz o que quiseres.»
Com certeza, para assim ordenar,
apelava não ao amor na carne,
também não ao amor da amiga ou amigo,
mas ao ágape, ao amor sem interesse,
generoso,
sem contrapartida,
que os crentes alicerçam no Deus
(ou acaso na Deusa, una e trina)
todo (ou toda) Amor.
Contudo, amigas e amigos, como poderemos
à perfeição
seguir o mandato do amar comprido
sem a mediação da carne?
É que cabe amar sem procurar que a pessoa,
a quem o amante tende,
seja pelo menos não inimiga ou preferivelmente amiga?
E, se Deus (ou a Deusa) nos criou carnais
e sexuados,
a que vem desestimar tão lindo amor?
Não pecaremos contra Ele (ou contra Ela)
se tentarmos, antes da eternidade,
trocar-nos em espírito puro,
sem ossos, sem carne, sem pele,
sem o sangue a ferver nas brasas do sexo
que nos amolda em pessoas humanas?
Contam que os místicos, ao penetrarem no Ser divino
(ou na Ser divina), sofrem...
gozam gostosa redundância,
idêntica ao orgasmo
que se dão pessoa a pessoa
na união de carne com carne...
Portanto, amigos e amigas, tornemo-nos místicos
da carne: promovamos o sexo inocente.
Assim acabaremos divinizados. Sem dúvida.