Grilhão de Carne
Grilhão de carne
Estou farta de tua expressão
Que não me mostra a cara
Verdadeira de teu sentimento
Estou farta de tua rotineira
Entrega submissa e abusiva
Ao cotidiano reprimido
Face ao sonho não vivido
Ao amor não repartido
Ao ideal não atingido
Ao obstáculo não superado,
Ao sonho desmantelado
E a ausência da satisfação
Que nos dá o dever cumprido.
Tenho sede de aprender,
De conhecer outros lugares
De viajar e ver outras paragens.
Às vezes o corpo desperto
É uma prisão dura
E um forte grilhão a nos prender.
Gostaria de viver livre
Voar pelas alturas
E meu destino eu mesma tecer.
Devagar, com linhas finas
Corte reto, amplo, largo
Como um vestido bonito
Onde eu levasse o corpo
Enfeitado e protegido
Para um passeio muito lindo.
Estou farta desta mansidão
Silenciosa que escoa devagar
No silêncio das horas.
Estou farta desta rotina
Semelhante a uma cantiga
A repetir o mesmo refrão
A vida continua lá fora
Quero ver teu verdadeiro rosto
Não me escondas nada
Nada tenho, nada temo,
Apenas a triste dor
De sentir este desamor
De tua parte, indiferença
Tão profunda, que forma uma ruga
Em tua fronte adulta
Sonho idealizado, no futuro
Uma vitória conquistada
Eu e minha bem amada
Unidas, juntas venceremos
Mais uma etapa
E então a tão sonhada
Liberdade ecoará no silêncio
Do escoar desta consagrada
Hora tão esperada
O finalmente de tudo
A limitação do abuso
A derrubada do muro
Que nos separa da vida
Que nos fecha a alegria
E nos prende ao passado.
Momento então consagrado
Hora sagrada do parto
Lançamento de um novo marco
Certamente iremos trilhar
Um novo caminho
Ser que estás ainda no meu ninho
Iremos brilhar, iremos lutar
Com Deus a nos abençoar
A nos dar uma chance
Que iremos aproveitar
E um dia um canto de glória
Enfim entoar: Amar, amar, amar.