Poema risonho
Edson Gonçalves Ferreira
Todo dia é Natal
Digo isso para o Menino que anda comigo
Ele só sorri e me chama para ir tomar banho no riacho
Eu cresci e a minha alma não
O Menino me conduz para onde Ele quer
Me conta que seu pai era como o meu: carpinteiro
Só que o Dele nunca bebeu
O meu pai bebeu e foi uma cruz
O Menino sorri e responde que eu não devo reclamar
Ele mesmo morreu na Cruz
Que a minha cruz é menor
Aí, retruco, mas você é filho Dele e eu sou só o filho do Arlindo...
Então, Ele cai na gargalhada e até Se entorta de tanto rir
Não acho nem um pouco engraçado
Ser humano é ser limitado
Teimoso, ele retruca: Eu também assumi a dimensão humana
E de repente, pensamos nas mães
A mãe dele era tão consagrada quanto a minha e a sua
Pergunto para ele se não é verdade
Ele não abre a boca, sorri apenas, confirmando
Nossas mães não foram anunciadas, mas conceberam
Toda concepção vem de Deus
Na interação com a nossa sagrada humanidade
E ela, a humanidade, que me permite abraçar o Menino Jesus
E chamá-lo, quando preciso, para conversar comigo
Ele vem prontamente
Assume formas diversas
Quando Ele está dentro de mim, fico impossível
Deito de barriga para cima e vejo imagens nas nuvens
Começo a cheirar a terra para sentir a sua fragrância
Choro ao ver que tanta gente não tem olhos para ver a essência
Não é difícil
Quando se olha com o coração, podemos ver melhor
Aprendi isso com o Menino
Ele que não tem tempo nem hora, sabe a hora das coisas
Nós que não sabemos porque vimos e nem quando vamos, preocupamo-nos, às vezes, àtoa, à toa
Enquanto eu falo, o Menino Jesus me escuta e concorda
E sorri da minha lucidez quase pueril.
Divinópolis, 21.11.08