o canto da mulher

O CANTO DA MULHER

Certa vez, lendo uma dessas revistas dirigidas ao público feminino, chamou-me a atenção uma lenda de uma tribo africana, na qual as mulheres, quando se sentiam "encantadas" por um homem, começavam a entoar cânticos de amor e paz. Elas levavam esse desejo por todos os lugares por onde iam. Maculadas, pelo medo de serem postas a segundo plano, uma mulher dessa tribo nunca tomava a iniciativa de se aproximar de um homem...apenas o observava, sorrateiramente, e sempre entoando, baixinho, o seu cântico de amor. Interessante nisso é que cada uma tinha seu cântico próprio, criado para aquele momento da sua vida. Era a musicalidade agindo como um feitiço, como uma serpente..que ao chocoalhar seus guizos, atrai o macho.

Outro dia entrei numa loja de telefones celulares e, na dúvida sobre qual aparelho escolher, pedi conselhos ao vendedor sobre as particularidades de cada um. Surpreso fiquei ao saber que um certo modelo vinha com a possibilidade de se gravar uma música, à qual poderia identificar, como um toque, cada número em particular.

Pensei... que complicado! Tenho mais de uma centena de contatos na minha agenda, terei que memorizar mais de uma centena de músicas?

Ele disse... é.. isso é o problema.

Uma môça, que ouvia nossa conversa, entrou imediatamente no negócio:

- Não...pode memorizar poucas músicas, ou talvez apenas uma música... o chamado da pessoa que te encante, que te atraia. O restante pode deixar como um chamado normal.

Olhei para o vendedor e aí neste momento pude perceber a imensa diferença entre a alma feminina e a couraça masculina, essa falta de sintonia com o mundo ao redor.

Percebi que o rapaz queria me vender um telefone apenas, enquanto a vendedora me propôs a venda de uma idéia, de uma inovação e do conhecimento. Ela me tratou como um amigo, sem nunca antes termos conversado.

Amigo é alguém que conhece a sua canção, e a canta quando você a esqueceu. Aqueles que lhe amam não zombam de você pelos erros que cometeu ou pela imagem enodoada que faz de si mesmo, mas lhe acham bonito quando você se acha feio; que você está inteiro quando dizem que está em frangalhos; que você é inocente quando dizem que é culpado, e qual é o seu propósito quando se encontra confuso.

Vocês podem não ter sido criadas numa tribo africana que canta a sua canção nos importantes trânsitos de suas vidas, mas a vida está sempre a lhes recordar quando vocês estão e quando não estão em sintonia com vocês próprios. Quando se sentem bem, aquilo que vocês estão fazendo corresponde a canção de cada um, e quando se sentem horríveis, não. Por fim, todos nós reconheceremos a nossa canção e a cantaremos também.

Sinceramente, eu preferia ter nascido mulher a homem. Não tenho problemas com minha identidade sexual, a coisa é mais grave, a coisa se dá num outro nível, no momento da percepção da sensibilidade, no momento em que olho todas as mulheres e as vejo com a possibilidade da maternidade, com o útero que representa o cálice do mundo, quando as vejo em sua docilidade (mesmo em fel) amando e sofrendo pelo próximo. A mulher é a Natureza, é a Mãe do Mundo, é a Grande Senhora. Eu acho que só a mulher traz em si a doçura que encanta a humanidade e a firmeza que a faz caminhar. Busco na mulher, jamais o prazer imediatista, mas sim a mão que me repreenda e que me afague, que me afaste e me dê de beber. Vejo a mulher com devoção e, mudando de idéia, agradeço ter nascido homem para poder melhor reverenciar a mulher.

abraços

PEDRO MAGO

doce moreno
Enviado por doce moreno em 20/11/2008
Código do texto: T1294421
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