Sonhos dançam em reprise...
Sonhos dançam em reprise...
Vejo um rosto conhecido
Que foi talhado em madeira
Inexpressivo, imóvel, sem cor...
- Como estás diferente, meu amor!...
Sonhos trazem as lembranças
De uma voz meiga, sussurrante...
Hoje... Sem entonação
Palavras saem sem ardor,
Sem carinho e entusiasmo...
- Eu te vejo: ficas pasmo!...
Paralisa-te o temor?...
Que estás, pois, a fazer?
Brincas de sobreviver?...
Fico a pensar, então,
Que tu não és mais o mesmo...
E o que vejo à minha frente
Não é o homem que amei...
- Como me enganei!...
Eu te dei o meu perfume
De sândalo, machucado,
Pelo machado em tua mão...
Tu me deste as machadadas...
Minhas mãos tão machucadas
Querem hoje solidão!
Nunca vi uma ascensão tão rápida...
Fadada estava ao êxito!
- Mas hoje podes cair,
De roldão!...
Pudesse eu ajudar-te em teu caminho...
Pudesse afastar pedra e espinho
E segurar tua mão...
Eu cairia contigo
Ou contigo subiria
Pois eu te quero no pódio...
Deixa de lado este ódio!
É orgulho! É maldição!...
Com olhos inda magoados
Vejo teus lábios fechados:
Não cantas mais a canção...
Mesmo assim, se eu pudesse,
Com o amor que o peito tece,
Eu sofreria! Tu, não!...
Sonhos dançam em reprise,
Esfumaçados matizes,
Tento colori-los! Em vão...
Se estilhaçaram em cacos
De uma vida em pedaços...
Foi tudo o que sobrou
De ti... E de mim,
A única mulher que te amou!