Quase nada dorida
De vez em quando você
retorna a mim, em forma de
pensamento, como hoje.
E essa lembrança, hoje
pouco ou quase nada
dorida, me faz pensar
no tempo jogado fora
como papel amassado
em lata de lixo.
Papel escrito, mas sem
importância que o próprio
tempo se encarregou de
amassar, destruir.
A sensação que fica
em mim é a da
inutilidade de tantas
emoções desperdiçadas.
E me lembro do Chico
na canção que diz:
“Chego a mudar de calçada,
quando aparece uma flor
e dou risada do grande amor”.
E tenho, realmente, mudado de
calçada com medo dos
espinhos da rosa, do grande amor
que sempre penso estar
descobrindo e descobrir, uma
vez mais, que foi apenas
uma ironia, uma tragédia
encenada no palco da
minha alma, tantas vezes
ferida e agora, já medicada,
temerosa de conjugar
novamente o verbo amar,
seja em que tempo for.