Quem sabe

Hoje, versos de extrema solidão preenchem

de vermelho o branco do papel.

O vermelho do sangue que corre em

tuas veias e o branco da paisagem

disforme que da janela vejo.

E pergunto se haverá poesia.

Ainda penso em ti...

Ainda escrevo o lamento plangente

que tua partida causou em mim.

Tento seguir em frente e não

olhar para o que fomos, mas o

passado se faz tão presente quanto

a dor que dilacera o peito.

Queria, uma vez mais, unir as

pontas do laço que se desfez, mas sei

que algumas decisões são

irreversíveis, assim como algumas

paixões não se desfazem

ao sabor do vento.

O tempo sabe ser cruel com os amantes.

Assim foi com o que vivemos...

Talvez por isso seja eu

a nossa memória.

Talvez por isso seja eu a parte

mais frágil da relação desfeita.

Não pensei em romance, mas a

Poetisa de outrora, preterida

tantas vezes pela Bacante,

sentiu aflorar também sua fantasia.

A Poetisa pede alguns versos,

constrói outros poemas.

A Bacante implora ao Mestre

um último banquete, um

último brinde a Baco.

Poderá ser à beira do cais,

onde amantes silenciosos

degustam uma vez mais

o sabor do fruto proibido.

E tu respondes:

– Quem sabe...

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 19/11/2008
Código do texto: T1292125
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