Quem sabe
Hoje, versos de extrema solidão preenchem
de vermelho o branco do papel.
O vermelho do sangue que corre em
tuas veias e o branco da paisagem
disforme que da janela vejo.
E pergunto se haverá poesia.
Ainda penso em ti...
Ainda escrevo o lamento plangente
que tua partida causou em mim.
Tento seguir em frente e não
olhar para o que fomos, mas o
passado se faz tão presente quanto
a dor que dilacera o peito.
Queria, uma vez mais, unir as
pontas do laço que se desfez, mas sei
que algumas decisões são
irreversíveis, assim como algumas
paixões não se desfazem
ao sabor do vento.
O tempo sabe ser cruel com os amantes.
Assim foi com o que vivemos...
Talvez por isso seja eu
a nossa memória.
Talvez por isso seja eu a parte
mais frágil da relação desfeita.
Não pensei em romance, mas a
Poetisa de outrora, preterida
tantas vezes pela Bacante,
sentiu aflorar também sua fantasia.
A Poetisa pede alguns versos,
constrói outros poemas.
A Bacante implora ao Mestre
um último banquete, um
último brinde a Baco.
Poderá ser à beira do cais,
onde amantes silenciosos
degustam uma vez mais
o sabor do fruto proibido.
E tu respondes:
– Quem sabe...