Para a mulher estranha
Teu riso é como o desespero da madrugada
não a elegia lírica e perene das folhas brancas
mas teu riso é o corpo se debatendo em convulsão
algo próximo da morte,
tu lembravas das horas
caminhavas ao vento
contemplavas minha partida que assomava teu ser
era sempre
tantas batalhas travadas no peito fatigado
lágrimas salgadas tocando a língua árida e aflita,
teu gosto é como a condenação dos perpétuos
à perpétua sorte do sofrer inclemente
teu peito me retalha em prato e ausente em tudo
toco a chaga que profusa, mata-me no instante
teu ser é como a alma confinada ao esquecimento
e como a solidão dos pinheiros nas florestas brutas e perdidas do
nada,
tu eras mas não és, não existes mais
tuas mãos espalharam-se como a cinza nos jardins floridos
teu beijo recompôs-se em milhares de invocações de amores perdidos
tu lembravas que sempre minhas palavras eram cuidadas
pra que nunca fossem aos teus ouvidos algo estranho,
agora minha voz está ausente,
tu és como o orvalho das madrugadas
és algo como a vida e a luz
e teus olhos, teu sentidos mais discretos são como as manhãs
que renovam e dispersam em sombra
as tristezas,
perdoe-me
as vezes tantas em que não soube explicar meu pranto