ELA e ELE: SELENE, SOLENE...

Ela, Selene.

E ele? Apolo solene?

Mas não disseste, num poema anterior,

que ela era anjo de diurnas asas?

E que nele coriscavam as noturnas,

mal, escassamente?

Sim, disse,

mas também neguei que fosse

dessarte...

Finjamos, portanto, que ela

é Selene, Lua fugidia e lânguida,

espelho esplêndido e opaco

das vidas solenes e úmidas

que procuramos ser...

Também ele:

Solene navegante por entre os silêncios

de alabastro que a noite semeia ao passo

dela... Ele, solene, erguido, rio gentil,

espreita os nevoentos e castos perfis dela,

enquanto beijos de luz branda nas virginais

nádegas das serras as estrelas roçam leves

Ela, Selene... Ele, aprendiz de Apolo

farinhento, tristonho... solene...