PARTIDA
(esse momento não admite rimas ou métricas, apenas o escancarar de um coração que morrera há pouco)

Eu sonhei viver um grande amor.
As mãos juntas, o carinho, o calor.
Eu sonhei edificar uma história
Com as bases sólidas da cumplicidade
Fazer de cada tijolo uma prova de amizade
Revestida do mais puro e eterno respeito.

Eu sonhei e vivi pra este amor
Pois quando ele chegou não hesitei
E ele em seu indizível poder de virar o mundo do avesso
Fez de mim ser reluzente, incessante no olhar.
E nesses olhares, às vezes em um segundo
Parávamos nós dois a fazer parar o mundo.

Eu sonhei viver um grande amor
E lutei, chorei, gritei, sufoquei o quanto pude
Na esperança de dar vida ao sonho
Pois quando ele me arrebatou vindo de você
Eu percebi que ainda não tinha nascido meu viver
Era você a minha gênese, meu êxtase em verter
Do pó que até então eu fora, em homem amigo amante.

Eu sonhei viver um grande amor
E vivi.
Mas o que pra mim estava a nascer
Pra você pôs se a morrer pelo medo
Pelas incongruências da vida,
pelo repugnante peso da culpa
O que era pra ser pra sempre
Independente do quanto fosse
Você abreviou com golpe de foice

Agora choro intermináveis lembranças
De tudo que havia de mais lindo no mundo.
Eu e você a completar e dividir.
Agora sou só metade de mim e assim sempre
caminharei a passos lentos à sua espera.