A mancha de batom

Na camisa, uma mancha de batom.

Nos poros, cheiro de sexo recente.

A roupa trazia sinais de amassada.

E cada um conversando em um tom.

Para não falar no encontro urgente

Que deixou sua marca carimbada.

O perfume agregava sexo e traição.

Um odor pungente de falsidade.

No corpo, suor recém seco na toalha.

Deitou-se no lado da cama sem ação.

E ela ruminando o ar da infidelidade,

somava os anos de acertos e falhas.

Alheio ao estrago, ele logo pegou no sono.

Sem um afago, uma bebida, uma desculpa.

Com a respiração forte e muito ofegante.

A mulher não tinha mais nenhum sonho.

E apertava o seu coração espumando culpa,

Para esquecer que ele tinha uma amante.

Sem dormir, a mulher viu o nascer do dia,

e deslizou a mão macia no corpo do amado,

e encostou-se levemente nas suas pernas.

Já não lhe importava nada, nem o nome da vadia

que usufruiu o gozo do homem ao seu lado.

E nem as juras que pareciam tão eternas.

Depois, deixou que ele cruzasse a porta,

carregando na mala alguns pertences,

daquele jeito que ela não mais suporta.

Tudo ficara transparente e convincente.

Nenhum amor no mundo é tão resistente

quando os olhos se fecham sem olhar.