AMOR DOENTE
Quero que voce me iluda, sem a mínima piedade da inverdade;
Ser estilhaçado pelo bem de tua maldade, doar a teu veneno meus logradouros;
Sobrevoar os estouros que lançam teus raciocínios pelos ares;
Se tu me aprisionares, serei o mais livre dos sábios loucos!
Aceito teu deserto arborizando meu interior;
E ser senhor completamente subserviente;
Dá-me teu atentar até indiferente, cala minha paz com teu furor;
Faz o que for, desde que em mim te faças presente!
Julga-me e condena o auge dessa minha inocência;
Esmaga com clemência meus frutos que te amam desde a raíz;
Deforma minha cerviz, até que lembre tua aparência;
Premia minha demência, sendo-me doença e cicatriz!
Espanca minha índole e atropela meus projetos;
Sejam meus sonhos dejetos, se algum deles ousar não te almejar;
Asas nada valem pra quem não pode voar, quadros são inúteis se não forem belos;
Pra quê então saudáveis anelos, se eu não puder te amar?