ELA e ELE: VOLÚPIA...

«Escuta, meu amor, o que liriza Florbela:

"No divino impudor da mocidade,

"Nesse êxtase pagão que vence a sorte,

"Num frémito vibrante de ansiedade,

"Dou-te meu corpo prometido à morte!»

Diz ela, enquanto ele acarinha

a carne madurecida dela...

Ele pensa que volúpia melhor se goza na idade já não moça,

quando os amantes não precisam pesquisar

recantos nem frémitos:

Conhecem todos:

vibrantes e radiosos por vezes

ou emaciados e mestos...

Vinho inebriante ou água serena,

beijos da maldade ou ósculos de anjo sumisso,

dálias ardentes ao rubro ou lírios cândidos e felizes,

felinos abraços envolventes ou carícias sem rumo...

Ele pensa imaginando:

Onde é que mais volúpia aninha?

Nesse justo momento, ela já não diz,

faz excitada

e ele deixa-se fazer navegando por nuvens e suspiros...

Florbela, levitante na volúpia,

tem de acabar o soneto:

«E do meu corpo os leves arabescos

»Vão-te envolvendo em círculos dantescos

»Felinamente, em voluptuosas danças...»