Vício de Amar
Essa dependência não tem cura e causa fissura
Nem há medicamento pra conter tanta loucura
Desse vício insano de te amar com tal fartura
Já pedi aos astros, santos e até joguei búzios
No Candomblé rezei à Yemanjá a Rainha do mar
Fiz despacho com galinha de angola na encruzilhada
E a cada estocada... Simplesmente nadica de nada!
Pelo contrário... Fiquei ainda mais apaixonado.
Se chegam notícias tuas... Vejo-me fascinado!
Mas se falta eis-me aqui perdido e decepcionado
Como conseguistes deixar-me assim enfeitiçado?
Só de olhar o teu semblante sinto-me arrepiado
Já imagino os escritos em minha lápide: Aqui jaz...
Um pobre poeta bem moço que morreu de amor!
Mas se você balbucia alguma fala... Babo feito fera
Ainda descobrirei a tua fórmula... Essa tua alquimia
A química que usaste para me deixar assim arriado
Já me sinto motivo de deboche nas rodas de samba
Onde gritam e azucrinam com todo tipo de chacota
Mas se você me olha e dá bola ou apenas me acena
Tudo vale à pena... Até essa falta tua que é obscena
E assim preencho os meus vazios de ti fora de cena
Aliso as dores das saudades que aflora dentro do peito
E clamo, grito, rezo, imploro, chamo por você no leito
No afago das carícias que só você sabe fazer com jeito
E até já nem ligo, nem me lembro de viver assim aflito
Com as lágrimas derramadas banhando o meu rosto
E beijando os meus lábios como se fosse a tua boca
Na quietude cristalizada do mais cálido de um abraço
Ouvida a melodia que emitiste do teu sinfônico poema
Que o eco penetrou pelos labirintos de meus tímpanos
E se alojou em meu coração como o canto do soprano
Ou o toque delicado e cirúrgico do bico de um beija-flor
Que ao sugar teu pólen nutriu-se da tua imensa beleza
E veio aqui deixar a sua mensagem de amor e de leveza.
Hildebrando Menezes