A CHEGADA DO AMOR
Chegou sem avisar e assim nem pude preparar meu coração;
Por entre a cerração, nem sei exatamente a que momento;
Ímpeto sobre as asas do vento, um imantar de intensa sedução;
Castrando o pudor da solidão, rasgando o véu do isolamento!
Chegou tal como novidade eternamente conhecida;
Como brisa enfurecida, num álibi sereno de incrível arrebentação;
Me acalentando em conturbação, tingindo entrâncias com saídas;
Flores vestidas como adagas desinibidas, pecado mais nobre que perdão!
Chegou ditando normas com seu absolutismo servidor;
Armando redes em meu interior, dormindo nas vigílias alucinantes;
Elevando meu destino aos ares dos amantes, regando minha pele com ardor;
Lábios vitimados de furor, corpos envoltos por lençóis fumegantes!
Chegou pra ser o fogo infernal de um céu açucarado;
O colossal traslado que desilude todos os receios a que alude;
Um açude de mel sexual, num ritual de desejo alucinado;
Cardápio no teu ser encadernado, enclausurada fome a fugir com atitude!
Chegou sem hora certa pra sair;
Fazendo o outono sorrir, primaverando meus avessos;
Chamando os fins de recomeços, incessando o viciado interagir;
Chegou sem vocação pra ir, e me amar num mar de eternos beijos!