A caixa de música

Eu a vejo na estante,

Cheia de riscos...

E me lembro que,

Um dia,

Sua música suave

Me fazia suspirar...

Caixinha de música,

De preto laqueada,

Com várias cores pintadas,

Lembrando um piano de cauda,

Que agora repousa em minha mão...

Preciosa lembrança

De um coração...

Lembranças do primeiro beijo,

Do primeiro amor...

Dentro dela

Há vários bilhetes,

Uma rosa seca e já sem cor...

Miudezas que remetem ao tempo

Que eu ainda sonhava com o perfeito amor...

Sonhos que findaram

Assim como a música que ela costumava tocar.

Entristecida,

Percebo quanto tempo já passou...

Minha caixa de música amada,

Hoje é muda,

Não pode ser consertada...

O tempo a roeu,

A corda se quebrou...

Mas na lembrança ficou

A música que ela tocava,

Quase que sem parar...

Mais de quinze anos estão a me separar

Do tempo onde a caixa de música

Significava a perfeição...

Um primeiro e grande amor,

Vivido com intensidade e paixão,

Até que a mão da morte o viesse buscar...

Outros amores vieram

Mas não puderam a este se comparar...

Não com o primeiro,

Não com este amor que só me feriu quando a morte o findou.

No mesmo dia da funesta visita,

A caixa se calou...

Talvez soubesse antes de mim

Que não teria mais porque cantar.

E eu olho a laca em alguns pontos lascada,

A tampa meio desconjuntada

Enquanto lembro da música que um dia ela tocou...

Música que meu primeiro amor embalou,

Música escolhida pelo rapazinho encantador,

De cabelos escuros e olhos da cor do mar,

Que fazia juras em voz quente e baixa...

No meu primeiro dia dos namorados,

Meu presente foi essa caixa...

Que todos dizem pra me desfazer,

Pois olham apenas para o objeto surrado,

Não sabem o que ele significa...

Não sabem que tal presente foi dado por um ser por mim amado,

Não sabe da história que ele está a guardar.

A história de um casalzinho sonhador,

Que sorria ao escutar

O som da caixinha,

Antes de doces beijos trocar...

De mãos dadas, a sonhar,

Com um futuro que nunca veio,

Pois a morte o levou...

Mas o sentimento...?

Nunca se acabou.

Ele foi o primeiro...

No meu coração sempre terá lugar.

É por isso que a caixa de música,

Mesmo muda e pelo tempo marcada,

Continuo a guardar...

Para me lembrar de quanto tive sorte.

Amei um anjo,

Que me beija a cada sopro de vento mais forte,

Que brinca com meus cabelos,

Que nos sonhos vem me visitar...

E com o mesmo arzinho

De menino levado

Ele se senta a meu lado

E sorri sem parar...

E num jeito carinhoso,

Do jeito que lembra a minha mente,

Vem aos meus ouvidos aquela voz baixa e quente,

Que me conforta em sonhos, quando estou a chorar...

"Minha vida neste mundo findou...

Eu vim só de passagem...

Só pra te encontrar...

Era meu destino te ensinar o verdadeiro amar,

Antes que viesse a desilusão...

Não chora assim, meu coração...

Irás ser feliz nesta vida...

Eu sei...

Encontrarás alguém que te amará

Como eu amei...

Acredita nisto... E volta a sonhar."

E quando eu acordo desses sonhos,

Por um instante,

Ainda que meio dormente,

Juro que ouço a caixa de música,

Em teoria, muda, tocar.

São fatos que não se explicam...

São coisas que ninguém quer acreditar...

Mas toda vez que ouço a caixa de música tocar

Um pouco de esperança rebrota em meu coração...

Ele veio por pouco tempo,

Tal qual a canção...

Mas sua memória, nem o tempo há de apagar...

Memória sagrada,

Guardada com com profundo amor,

Com doce afeição...

Memória de meu primeiro amor,

Que foi o mais puro em emoção...

Nem a morte levou tal sentimento...

Porque o tempo haverá de levar?

É essa certeza que me faz sorrir,

Toda vez que para o firmamento eu olhar...

Ele não morreu,

Só voltou para casa...

Está nos céus,

Que é dos anjos o lugar...

Zannah
Enviado por Zannah em 06/11/2008
Código do texto: T1270134
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