Ausências
Quando olho
as mesmas coisas feitas de um só acorde
manhã insípida
morna canção
é claro, faltam tuas mãos em torno das minhas,
quando, à sentir,
vinte e tantas horas de um dia
carregadas de cansaço
sei
que era preciso mais do que refazer na memória
mais do que trazer à lembrança o espelho do teu corpo
era preciso clamar teu nome
caminhar sozinho, não sei,
escrever cartas apaixonadas, derramar
secretamente a lágrima
por causa deste dia tão triste,
quando olho a canção
de poucas cores feita
a manhã agonizante sem tuas primeiras expressões de amor
o céu que sobre nós chora contido
num mesmo verão,
tudo
é claro
pede a tua volta
tudo pede o teu perdão
faltam as tuas mãos em torno das minhas
somente coisas feitas num só tom
paisagem delirante, calada,
falta a alma da melodia, a essência do mais simples
neste dia tão triste, neste resto de estrada arrastada pelo mundo
nesta hora embaçada nos restos das janelas,
tudo
é claro
pede a tua volta ...