Confissões do beija-flor
Tu me achaste em versos perdidos
Que o vento a mim soube trazer
E em meus sonhos esquecidos
Sem medo nenhum quis me conhecer.
Bateste a meu caminho:
Laureada fé tem teu coração,
E em teus olhos, não mais sozinho,
Encontrei um par à solidão.
E nesse olhar que se cruzou
Assisti ao toque cândido da pureza,
Uma lágrima solta se derramou
Em meu rosto velado de incerteza.
Seria eu merecedor
de guardar a vista de tal beleza?
Seria eu o portador
Do ar que te dá leveza?
Teu beijo respondeu-me
E mergulhei em teu encanto
Nos lábios aprofundou-me
A veluda boca que me faz manto.
E envelheci naquele abraço
A eternidade me contemplando,
Eu ao mundo, à tua mão por este laço,
Teu toque à minha vida me agarrando.
E dos lábios meus, tão austeros,
Veio à luz da noite um sorriso,
Amanhecendo dos fados tão severos
De nunca haver-me amado um só riso.
E reluzi minha alegria
Cintilando aquela praça, a ti destinado
E fiz da noite na hora o dia
De ser ao mundo eu por ti apresentado.
Passei cada lindo momento a teu lado:
Com beijos em que meus lábios fontes viraram...
Sonhei e pude estar contigo acordado:
Foram tantas as auroras que nos despertaram...
E Nos tornamos os astros:
A resplendermos na imensidão que se propagava,
E Nos fizemos de mastros,
A nos erguermos quando a tristeza nos derrubava.
As tempestades que eu não previ
Tentaram na força te levar,
Mal sabiam elas que a ti eu me fundi
E enquanto vivo, não haveria de te largar.
E as tormentas me maltrataram
E noites perdidas passei a ter,
Mas quando acordava tuas mãos me cuidaram
E na força do amor então passei a crer.
Tu és a minha Lua
Que sabe tão alto brilhar,
E do céu ou da terra me vens nua,
Só coberta do amor a compartilhar.
Tu és minha branca rosa,
Encravada jaz aqui em meu peito,
E nutre-me de seiva, tão frondosa;
O elixir da paixão que de ti aceito.
Oh rosa, se assim te fala
Esse teu eterno beija-flor
é pois tua alma que amor exala
e incensa-me com teu olor,
é tua vida que me acasala
e me acalenta o suspiro com teu calor.