VERSOS COVARDES
Todas as minhas negações são meios de te reafirmar;
Meu modo de te ignorar, não passa de aplauso comedido;
Se digo que nem ligo, algo bem oposto afirma o meu olhar;
O que não diz o meu falar, disfarçar já não consigo!
Se te encomendo à indiferença, ela simplesmente não te recebe;
Ainda que te negue meu ato voluntário, és minha no inconsciente;
A voz da solidão me desmente, minha sede só alivia quando te bebe;
O sol é feito de neve a cada verão que tu estás ausente!
O poema que não te revela, em ti se inspira;
A felicidade que expira, foi morar no mesmo vento que te levou;
O meu sorriso é dor, saudade é flexa que me fez mira;
Quebrada corda de uma lira, é minha alma que nunca mais cantou!
Assim vou te encontrando em meus covardes versos negadores;
Vertendo sonhos detentores de uma ilusão que assume tuas formas;
Seguindo a ditadura das normas, comendo o pão dos dissabores;
Sendo um pintor divorciado das cores, vivendo de minhas sobras!