Só no horizonte...

Um dia o céu e o mar se entreolharam:

Parecia que se completavam

Pois há tanto tempo se encontravam...

Há tanto tempo o céu se refletia

Na meiguice das águas fugidias...

Há tanto tempo as estrelas dormitavam

E se banhavam no mar, e se espelhavam...

Há tanto tempo o mar se agitava

Em reflexo fiel que o céu mandava;

Que – por que não? – unir destinos

E mar e céu formarem a Unidade,

Pois há tanto tempo conviviam?...

Pensando assim, ingenuamente,

Uma noite, quando a lua brilhava intensamente,

Quando as águas batiam nos rochedos

Fazendo música não se sabe de onde,

Mar e céu prometeram docemente

Unirem-se num só, para se amar,

Intensamente e completando-se pra sempre!...

Ingênuo sonho: veio a mão humana

Colocando faróis sobre a montanha;

E vieram barcos, com forte claridade,

Enrubescendo a nudez própria do mar;

E chegaram escafandros, movimentos

Estranhos às calmarias das noitadas,

E navios, porta-aviões, submarinos

- E nunca tal promessa foi tão violentada...

Sob o céu, instrumentos voadores,

A mão do homem, sem licença, colocou;

E aviões, satélites, mil coisas,

Coloriram a noite que corou

Ante os estranhos...

E no mar, até gente se matou,

E foi morta em sofrimento e muita dor,

Em nome da paz, nas suas batalhas...

Em nome do amor...

E as juras de amor encabuladas,

Encolheram-se ante aquela invasão...

A calmaria nunca mais voltou...

E a águas, com detritos, violentada

Perdeu a pureza que provou...

E o céu

E o mar

Se entreolharam...

E toda a natureza conspurcada,

Assim, chorou...

Então,

Vendo o sacrário do amor tão devastado

E por sarcásticos olhos profanados,

Tristemente,

Num afastar brutal, definitivo,

Céu e mar puderam constatar

Que o único lugar a se encontrar

Seria na linha imaginária do horizonte...

- É no sonho impossível de alcançar

Que se encontra o êxtase de amar...

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ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 04/11/2008
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