BEIJO

Entardece.
Como de hábito os pássaros chegam.
Buscam alimento para tecer a noite sem susto.
Teus olhos são meus passos
Perdidos nas areias das praias quase vazias.
O sol desce como se soubesse de algo.
Algo que não se diz.
Que não se conta.
Somos só eu e a tua impressão em mim.
O resto não faz sentido algum.
Busco tua boca
Como quem caça leões na mata em chamas...
Há um quê de desacerto
E tudo me desconserta.
Assim
Sem saber ao certo porquê
Amo o que sequer vejo.
Um amor escrito em balanços
De parques da infância
Quando o vento teimava em ser mais forte.
Sinto teu cheiro.
Teu braço enroscado em mim
Teu gozo perdido nas dunas de Itapuã
Tuas mãos querendo tocar
Mas com medo de ir além.
Sinto tuas vontades
Reticentes
No claro consistente dos teus dentes
Que se tornaram marcas
Pelo meu corpo com vontade de ti
Teu caminhar de garça
Tua graça espalhada
Pelos sobrados da velha São Salvador.
A chuva.
O despertar na madrugada
Para fugir rápido para algum lugar.
Nossas adivinhações
Nossas divagações
Tudo passeia na memória deste instante
Em que pouso meus lábios
No teu coração
E beijo profundamente este sentir
Que sei e não entendo.
Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 30/10/2008
Código do texto: T1256640
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