Como se a lágrima fosse mentira

Como se a lágrima fosse mentira, ela

não percorre mais as trilhas

do meu rosto, feito a água

do pequeno riacho que deságua

melíflua entre as pedras do caminho.

Havia você no meu céu estrelado

de esperanças, onde a mágoa

era um substantivo apenas

abstrato, contrariando a forma

concreta do que diz

a tua gramática.

Apenas palavras que se furtam

ao contato do lábio ferido que

traz em seu bojo o gosto de

sangue que perfila o desejo de morte.

A tarde vazia não me deixa,

por vezes, ouvir os sinos da

Piedade e a risada estridente

do homem ao lado me faz ter

a certeza momentânea de

que estar sozinha, sem a

presença masculina, cabe bem

na essência de minha alma-solidão.

Hoje é como se realmente

a lágrima fosse mentira e o

riso apenas um esboço breve de saudade.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 26/10/2008
Código do texto: T1249529
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