Como se a lágrima fosse mentira
Como se a lágrima fosse mentira, ela
não percorre mais as trilhas
do meu rosto, feito a água
do pequeno riacho que deságua
melíflua entre as pedras do caminho.
Havia você no meu céu estrelado
de esperanças, onde a mágoa
era um substantivo apenas
abstrato, contrariando a forma
concreta do que diz
a tua gramática.
Apenas palavras que se furtam
ao contato do lábio ferido que
traz em seu bojo o gosto de
sangue que perfila o desejo de morte.
A tarde vazia não me deixa,
por vezes, ouvir os sinos da
Piedade e a risada estridente
do homem ao lado me faz ter
a certeza momentânea de
que estar sozinha, sem a
presença masculina, cabe bem
na essência de minha alma-solidão.
Hoje é como se realmente
a lágrima fosse mentira e o
riso apenas um esboço breve de saudade.