ELEGIA II
São apenas estilhaços coloridos,
Restos de sonho e restos de lembranças,
São cacos doloridos, das andanças,
Que vivi, e trago qual tesouro em minha mão.
Vidro comum, nem mesmo cristal fino!
Vidro comum, nem chispas de brilhante,
Mas, mesmo assim, eu guardo,
Embora firam e façam sangrar continuamente minha mão.
E eu cuido e guardo qual tesouro!...
Discutir se mereceste meu carinho,
Se merecias tanto amor e tanto sonho,
É discurso vão. O que importa são os cacos coloridos
Dos frangalhos de sonho que ajuntei
E das lembranças que para mim guardei.
Se minhas mãos agora estão sangrando
E se dilapidou-se o coração,
Se merecias tanto amor e tanto sonho,
Se mataste, uma a uma, as esperanças,
É discurso vão.
O que vale é o meu tesouro colorido,
Que, embora embaçado com meu sangue,
Ainda brilha colocado junto ao sol...
E quando as sombras apagam seus matizes,
Meus cacos ainda brilham coloridos,
Pois meu sangue de vermelho ainda os tinge,
E eles não brilham em vão!
Caleidoscópio de irônico destino:
Enquanto sangram minhas mãos em os reter
E apertá-los com força junto ao peito,
Ainda posso ver o mundo em colorido,
De dor e sangue... E sofro... E ainda vivo.
E te retenho no sangue que se esvai,
E os cacos que ainda brilham quais cristais
Dão-me alento para viver o dia-a-dia.
E na dor e na ânsia de guardá-los,
Ainda vivo,
Ainda que viva em vão...