ELEGIA II

São apenas estilhaços coloridos,

Restos de sonho e restos de lembranças,

São cacos doloridos, das andanças,

Que vivi, e trago qual tesouro em minha mão.

Vidro comum, nem mesmo cristal fino!

Vidro comum, nem chispas de brilhante,

Mas, mesmo assim, eu guardo,

Embora firam e façam sangrar continuamente minha mão.

E eu cuido e guardo qual tesouro!...

Discutir se mereceste meu carinho,

Se merecias tanto amor e tanto sonho,

É discurso vão. O que importa são os cacos coloridos

Dos frangalhos de sonho que ajuntei

E das lembranças que para mim guardei.

Se minhas mãos agora estão sangrando

E se dilapidou-se o coração,

Se merecias tanto amor e tanto sonho,

Se mataste, uma a uma, as esperanças,

É discurso vão.

O que vale é o meu tesouro colorido,

Que, embora embaçado com meu sangue,

Ainda brilha colocado junto ao sol...

E quando as sombras apagam seus matizes,

Meus cacos ainda brilham coloridos,

Pois meu sangue de vermelho ainda os tinge,

E eles não brilham em vão!

Caleidoscópio de irônico destino:

Enquanto sangram minhas mãos em os reter

E apertá-los com força junto ao peito,

Ainda posso ver o mundo em colorido,

De dor e sangue... E sofro... E ainda vivo.

E te retenho no sangue que se esvai,

E os cacos que ainda brilham quais cristais

Dão-me alento para viver o dia-a-dia.

E na dor e na ânsia de guardá-los,

Ainda vivo,

Ainda que viva em vão...

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 25/10/2008
Código do texto: T1248253
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