Feito de um pouco de amor...

(Poet Ha, Abilio Machado. 241008)

Nada de interessante

Nada de sublime

Apenas lembranças perdidas

Fez um gesto evasivo tentando libertar-se

Não lhe convinha estender esta discussão

Brigar consigo mesmo

A dor lhe fazia sofrer mais

Não era belo

Não era assim tão esquisito

Tinha virtudes talvez esquecidas

Tinha defeitos talvez aflorecidos

Mas seu amor se fora

Saíra pela porta sem olhar para trás

O ar ficou de repente rarefeito

O brilho de antes era nada mais

Sentia-se um nada... Nada!

O sol não surgiu depois da tempestade

Elemento que não gostava

Adorava os trejeitos

Os lábios, o sorriso

Até a maneira bagunçada de ser

O tubo de pasta de dentes aberto sobre a pia

Os fios de cabelos no ralo

Do cantar do seu corpo

De quando faziam o que chamava

Amor...

As palavras que definiriam o tudo

Fugiam...

Ele ali nu com uma peça íntima

Sentiu o cheiro de olhos fechados

Chorou e secou a face com aquela lembrança esquecida

Sua cara metade estava tão longe

E ele ali jogado

Feito em solidão!