AMOR PRÓPRIO
Sobre as águas de um rio imaginário,
joguei um amontoado de coisas que
vinham molestando, e boiando, vi
que se debatiam como se fosse
o último suspiro.
Ali estavam minha solidão, as
minhas freqüentes conversas comigo
mesmo, as insônias agitadas nas
horas perdidas de todas as madrugadas.
Também estavam a saudade com sua
crueldade, uma mentirosa felicidade,
além da velha esperança que acabou
vencida pelas sucessivas derrocadas.
Passei a perambular completamente
vazio, sem caminho certo, um sério
candidato para ser mais um
desabrigado nos maus tempos da vida.
Até que um dia nossos olhos se cruzaram
e com o teu encanto de alma, recuperei
tudo o que havia jogado fora,
restabelecendo assim o meu
verdadeiro amor-próprio.