O DIA EM QUE O MUNDO PAROU
Chovia
Uma chuva amarga
Não ácida
Simplesmente amarga
Nos principais glaciares do planeta
Houve um súbito descongelamento
Ninguém sabia o que se passava
Excepto eu
E o meu lúgubre lamento
O sol
Pura e simplesmente que não se via
Ou sentia
Escondido por um imenso
Eclipse
As poucas crianças que se viam nas ruas
Não sorriam
Estavam simplesmente caladas
E as flores
Murchavam
Não floriam
E os poetas
Pura e simplesmente
Que pararam de escrever
Que pararam de sonhar
Como se não houvesse
Um amanhã
Ou amanhãs
Todas as coisas belas da vida
Suspenderam a respiração
Nas horas
A que demorou
Habituar-se à perda
Todo o meu infinito coração
Que continuava a bater
Mas baixinho
Porque partiste
E me deixaste
No meio do globo
Tão sozinho
À espera
Duma esperança
Que algures
Me viria resgatar
Dos braços da tristeza
Por onde nessa noite
Por Ti fui parar
Numa página dum poema
Em que a Terra foi finalmente minha
Por solidariedade
Da tal mágoa imensa que me arrebatou
N’
O dia em que o Mundo Parou