O DIA EM QUE O MUNDO PAROU

Chovia

Uma chuva amarga

Não ácida

Simplesmente amarga

Nos principais glaciares do planeta

Houve um súbito descongelamento

Ninguém sabia o que se passava

Excepto eu

E o meu lúgubre lamento

O sol

Pura e simplesmente que não se via

Ou sentia

Escondido por um imenso

Eclipse

As poucas crianças que se viam nas ruas

Não sorriam

Estavam simplesmente caladas

E as flores

Murchavam

Não floriam

E os poetas

Pura e simplesmente

Que pararam de escrever

Que pararam de sonhar

Como se não houvesse

Um amanhã

Ou amanhãs

Todas as coisas belas da vida

Suspenderam a respiração

Nas horas

A que demorou

Habituar-se à perda

Todo o meu infinito coração

Que continuava a bater

Mas baixinho

Porque partiste

E me deixaste

No meio do globo

Tão sozinho

À espera

Duma esperança

Que algures

Me viria resgatar

Dos braços da tristeza

Por onde nessa noite

Por Ti fui parar

Numa página dum poema

Em que a Terra foi finalmente minha

Por solidariedade

Da tal mágoa imensa que me arrebatou

N’

O dia em que o Mundo Parou

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 21/10/2008
Código do texto: T1239704
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