O MENDIGO E A ESTÁTUA ( romance )
Estou trabalhando um romace para ediçao até junho de 2009. O Mendigo e a Estátua é na verdade uma peça teatral que escrevi nos anos 90, com outro título e aqui adaptado para para romance. Todo dia esceverei um pouco. Acompanhe aqui esta história que muito já emocionou as pessoas quando representada. tenha uma boa leitura. Serão 10 capítulos.
O mendigo e a estátua
O mor parece mesmo ser algo indecifrável. Quem sente não entende, não se contenta em tê-lo na sua maior forma e força, acredita que ele pode ser sempre algo mais e esse mais nunca é o bastante, nunca é atingido.
E assim amamos sem querer nada em troca, sem esperar recompensas ou às vezes esperamos mais do que estamos dispostos a oferecer. Por isso sofremos. Mas sofrer por amor é regozijo, é padecer no paraíso sentado sobre grandes almofadas de ouro.
O amor se manifesta de várias formas. Existem os amores possíveis e os amores impossíveis; e tantos outros amores que muito tempo eu levaria para enumerá-los aqui. Mas entre os amores – ou forma de amar – que conheci, este me chamou a atenção. Ele tem algo de misterioso, divino além de mais, foge da razão que aprendemos ter, como seres humanos.
Trata-se do amor de um homem por uma estátua. Algo que foge à razão e à lógica dos lúcidos mas que se encaixa no contexto de um louco. Mas quem disse que amar não é uma verdadeira loucura? Está além da compreensão humana, mas não além da capacidade humana de sentir arder no peito o doce sabor do estranho amor, do estranho amar!
KAPÍTULO I
Era meado do mês de junho, o céu acinzentado dava seu previsível parecer que não economizaria seu sopro gélido sobre aquela cidade incrustada aos pés das altas colinas verdes, nos ermos da magnífica Minas Gerais. Salto da Divisa é o nome daquele pedacinho de chão, coberto por ruas largas de paralepípido, calçadas longas, bem cuidadas, delineadas por casas construídas no século passado, de janelas grandes e cobertas com telhas de barro. Uma cidade pacata, hospitaleira, cheia de histórias, lendas e causos. Seu povo - uma gente humilde sempre disposta a uma amizade – tem no olhar as palavras de boas vindas aos poucos forasteiros que aparecem por lá.
Na manhã de segunda-feira, 16/06/1961, o povo se reuniu na praça Dr. Gomes de Freitas que seria entregue à população totalmente reformada, com palmeiras, cascata artificial, jardins e claro: uma estátua de uma bela ninfeta esculpida por um famoso artista da região, o Carlos Dante. Para a ocasião, foi preparada uma grande festividade com queima de fogos, apresentação de cantores locais, declamação de poesias e um longo discurso do então prefeito, Dr. Vicente de Araújo.
Todos estavam orgulhosos, afinal a cidade agora teria um cartão postal digno da sua beleza secular. Aquele espaço seria muito além de uma praça, seria um ponto de encontros para os namorados, para os jovens, os velhos e ali todos se refrescavam nas noites de brisa suave, após os dias acalorados, como são todos, o ano inteiro, naquele lugar.
Várias homenagens foram feitas. O momento atingiu seu clímax quando o Dr. Vicente de Araújo, visivelmente emocionado, retirou o grande lençol branco que cobria a estátua, que recebeu o nome de Menina da Fonte. O povo tomado por uma grande euforia, não economizou aplausos.
- Meus amigos e minhas amigas de Salto da Divisa! É com muita alegria que vos entrego esta praça que tenho certeza, representa muito para todos nós. Nesse momento, está acontecendo a realização de um sonho que acalento desde menino: que era ver esta praça do jeito que ela está agora. Peço que todos ajudem a cuidar. Vamos preservar esse nosso patrimônio para que ele possa ser uma herança para os nossos filhos, nosso netos e etc e etc. – E assim, o Dr. Vicente Araújo finalizou aquela cerimônia. Foi um dia para todos os dias, na vida dos que ali se fizeram presente.
O dia foi indo. A noite aos poucos começou estender seu lençol sobre a cidade que logo vira a dormir seu sono de sossego e paz. No meio da madrugada, como de costume, o Damião aproximou da praça. Ainda afogado na sua embriaguez de todos os dias, com cara de espanto, ressabiado, começou a contemplar tudo ali. Esfregava os olhos – Nããão, deve ser a pinga! Ou é a pinga ou eu tô noto logá. Ou será que eu to sonhano? – Ele não se conformava com o que via. Andou toda praça, olhava a tudo. Cada detalhe era registrado pelos seus olhos nevoados. Dado momento ele se deparou com a Menina da Fonte. Ali aconteceu seu maior espanto! – Vichi! Ochente que é aquilo? Uma muié? Mai o que uma muié ta fazendo a essa hora na praça? – Aproximou-se. Ô dona, mio a senhora ir pra casa, em! Num é hora de ficá aí não dona. Inda mais nesse trajes aí... Silêncio. Ô dona, a sinhora tá surda, é? Tá mal do zuvido, é?
Ou será que a sinhora vai querê passá a noite aqui com eu; hã? Acho que a sinhora tá é mim querendo!
Bom, vou ficá aqui. Qualquer coisa é só me chamá. Tô interamente a seu dispô. Meu nome é Damião. Qual é o nome da donzela? ...Silêncio. Tá bom, tá bom, num precisa falá. Óia, tô aqui tá? Vô deitá um pouco mas se pricisá é só me chamá. Só chamá. – Damião forra o chão com seu pedaço de lençol e sob as estrelas estica seu corpo cansado e vencido pelo poder do álcool. Damião dormiu. Dormiu como um menino!
Aos poucos o dia foi rasgando a noite. Seria mais uma manhã de calor e a cidade logo acordaria para o seu funcionamento. O Tio José, como era conhecido, passou na sua carroça indo buscar leite para logo mais vendê-lo de porta em porta. D. Clara, uma senhora de cabelos brancos, voz macia e de olhos castanhos, logo saiu para varrer a sua calçada. Bom dia D. Clara! Bom dia Flávio! Bom dia D. Clara! Bom dia Jussara. E assim passava um, passava outro. D. Clara ao ver o Damião sentado na praça, entrou e em seguida voltou com uma xícara de café e uns biscoitos. Dirigiu-se ao moço que acabara de acordar dos seus pesadelos. - Bom dia Damião! - Cumprimentou-o com aquele seu carinho de sempre.
- Oi, D. Clara. Bom dia. Tudo bem?
- Sim, graças a DEUS. Olha o que te trouxe. Acabei de fazer.
- Ô D. Clara, DEUS abençõe. - Esticou as mãos trêmulas para apanhar a bandeja e acanhou-se ao ver D. Clara observar a sua situação. - Ah, meu filho, como eu gostaria de te ver livre desse mal! Peço tanto a DEUS para te ajudar.
- Um dia D. Clara, um dia! - Disfarçando o olhar molhado com seu pranto de dor. Entre um gole e outro de café, rompeu o silêncio: - D. Clara do céu, que negoço é esse aí? Vichi, mai é bunito de mais! Vô falá uma coisa pra sinhora: se um cabra tivé bêbo e oiá essa muié é arriscoso ele inté pensá que é uma muié de verdade! Parace gente, D. Clara!
Estou trabalhando um romace para ediçao até junho de 2009. O Mendigo e a Estátua é na verdade uma peça teatral que escrevi nos anos 90, com outro título e aqui adaptado para para romance. Todo dia esceverei um pouco. Acompanhe aqui esta história que muito já emocionou as pessoas quando representada. tenha uma boa leitura. Serão 10 capítulos.
O mendigo e a estátua
O mor parece mesmo ser algo indecifrável. Quem sente não entende, não se contenta em tê-lo na sua maior forma e força, acredita que ele pode ser sempre algo mais e esse mais nunca é o bastante, nunca é atingido.
E assim amamos sem querer nada em troca, sem esperar recompensas ou às vezes esperamos mais do que estamos dispostos a oferecer. Por isso sofremos. Mas sofrer por amor é regozijo, é padecer no paraíso sentado sobre grandes almofadas de ouro.
O amor se manifesta de várias formas. Existem os amores possíveis e os amores impossíveis; e tantos outros amores que muito tempo eu levaria para enumerá-los aqui. Mas entre os amores – ou forma de amar – que conheci, este me chamou a atenção. Ele tem algo de misterioso, divino além de mais, foge da razão que aprendemos ter, como seres humanos.
Trata-se do amor de um homem por uma estátua. Algo que foge à razão e à lógica dos lúcidos mas que se encaixa no contexto de um louco. Mas quem disse que amar não é uma verdadeira loucura? Está além da compreensão humana, mas não além da capacidade humana de sentir arder no peito o doce sabor do estranho amor, do estranho amar!
KAPÍTULO I
Era meado do mês de junho, o céu acinzentado dava seu previsível parecer que não economizaria seu sopro gélido sobre aquela cidade incrustada aos pés das altas colinas verdes, nos ermos da magnífica Minas Gerais. Salto da Divisa é o nome daquele pedacinho de chão, coberto por ruas largas de paralepípido, calçadas longas, bem cuidadas, delineadas por casas construídas no século passado, de janelas grandes e cobertas com telhas de barro. Uma cidade pacata, hospitaleira, cheia de histórias, lendas e causos. Seu povo - uma gente humilde sempre disposta a uma amizade – tem no olhar as palavras de boas vindas aos poucos forasteiros que aparecem por lá.
Na manhã de segunda-feira, 16/06/1961, o povo se reuniu na praça Dr. Gomes de Freitas que seria entregue à população totalmente reformada, com palmeiras, cascata artificial, jardins e claro: uma estátua de uma bela ninfeta esculpida por um famoso artista da região, o Carlos Dante. Para a ocasião, foi preparada uma grande festividade com queima de fogos, apresentação de cantores locais, declamação de poesias e um longo discurso do então prefeito, Dr. Vicente de Araújo.
Todos estavam orgulhosos, afinal a cidade agora teria um cartão postal digno da sua beleza secular. Aquele espaço seria muito além de uma praça, seria um ponto de encontros para os namorados, para os jovens, os velhos e ali todos se refrescavam nas noites de brisa suave, após os dias acalorados, como são todos, o ano inteiro, naquele lugar.
Várias homenagens foram feitas. O momento atingiu seu clímax quando o Dr. Vicente de Araújo, visivelmente emocionado, retirou o grande lençol branco que cobria a estátua, que recebeu o nome de Menina da Fonte. O povo tomado por uma grande euforia, não economizou aplausos.
- Meus amigos e minhas amigas de Salto da Divisa! É com muita alegria que vos entrego esta praça que tenho certeza, representa muito para todos nós. Nesse momento, está acontecendo a realização de um sonho que acalento desde menino: que era ver esta praça do jeito que ela está agora. Peço que todos ajudem a cuidar. Vamos preservar esse nosso patrimônio para que ele possa ser uma herança para os nossos filhos, nosso netos e etc e etc. – E assim, o Dr. Vicente Araújo finalizou aquela cerimônia. Foi um dia para todos os dias, na vida dos que ali se fizeram presente.
O dia foi indo. A noite aos poucos começou estender seu lençol sobre a cidade que logo vira a dormir seu sono de sossego e paz. No meio da madrugada, como de costume, o Damião aproximou da praça. Ainda afogado na sua embriaguez de todos os dias, com cara de espanto, ressabiado, começou a contemplar tudo ali. Esfregava os olhos – Nããão, deve ser a pinga! Ou é a pinga ou eu tô noto logá. Ou será que eu to sonhano? – Ele não se conformava com o que via. Andou toda praça, olhava a tudo. Cada detalhe era registrado pelos seus olhos nevoados. Dado momento ele se deparou com a Menina da Fonte. Ali aconteceu seu maior espanto! – Vichi! Ochente que é aquilo? Uma muié? Mai o que uma muié ta fazendo a essa hora na praça? – Aproximou-se. Ô dona, mio a senhora ir pra casa, em! Num é hora de ficá aí não dona. Inda mais nesse trajes aí... Silêncio. Ô dona, a sinhora tá surda, é? Tá mal do zuvido, é?
Ou será que a sinhora vai querê passá a noite aqui com eu; hã? Acho que a sinhora tá é mim querendo!
Bom, vou ficá aqui. Qualquer coisa é só me chamá. Tô interamente a seu dispô. Meu nome é Damião. Qual é o nome da donzela? ...Silêncio. Tá bom, tá bom, num precisa falá. Óia, tô aqui tá? Vô deitá um pouco mas se pricisá é só me chamá. Só chamá. – Damião forra o chão com seu pedaço de lençol e sob as estrelas estica seu corpo cansado e vencido pelo poder do álcool. Damião dormiu. Dormiu como um menino!
Aos poucos o dia foi rasgando a noite. Seria mais uma manhã de calor e a cidade logo acordaria para o seu funcionamento. O Tio José, como era conhecido, passou na sua carroça indo buscar leite para logo mais vendê-lo de porta em porta. D. Clara, uma senhora de cabelos brancos, voz macia e de olhos castanhos, logo saiu para varrer a sua calçada. Bom dia D. Clara! Bom dia Flávio! Bom dia D. Clara! Bom dia Jussara. E assim passava um, passava outro. D. Clara ao ver o Damião sentado na praça, entrou e em seguida voltou com uma xícara de café e uns biscoitos. Dirigiu-se ao moço que acabara de acordar dos seus pesadelos. - Bom dia Damião! - Cumprimentou-o com aquele seu carinho de sempre.
- Oi, D. Clara. Bom dia. Tudo bem?
- Sim, graças a DEUS. Olha o que te trouxe. Acabei de fazer.
- Ô D. Clara, DEUS abençõe. - Esticou as mãos trêmulas para apanhar a bandeja e acanhou-se ao ver D. Clara observar a sua situação. - Ah, meu filho, como eu gostaria de te ver livre desse mal! Peço tanto a DEUS para te ajudar.
- Um dia D. Clara, um dia! - Disfarçando o olhar molhado com seu pranto de dor. Entre um gole e outro de café, rompeu o silêncio: - D. Clara do céu, que negoço é esse aí? Vichi, mai é bunito de mais! Vô falá uma coisa pra sinhora: se um cabra tivé bêbo e oiá essa muié é arriscoso ele inté pensá que é uma muié de verdade! Parace gente, D. Clara!