Poema tardio
Pensei a paixão por ti transfigurando
meu corpo nu na cama
envolta em névoa de sedução.
Busquei em teu rosto o segredo
contido na palavra muda
que, agreste, fere o coração.
Uma vez mais a ilusão desfez-se
como o fio de água que
percorre meus dedos e finda
no tempo do instante
em que tu partiste.
Tenho sido personagem no enredo
de partidas infinitas quando penso,
em vão, ter encontrado a metade
para formar-me o todo.
Foste como os outros que
apenas vieram por um instante
e partiram em seguida,
deixando em mim os destroços
feridos da alma dorida.
Um poema tardio insere-se
no papel, refletindo de ti
uma saudade que já não sinto.
Salvador, 11 de outubro de 2008.