Um dia hás de voltar
Um dia hás de voltar
Como uma flor multicolor que não perfuma
Meu peito ardente lentamente se acostuma
A, finalmente, respirar na tua ausência
A controlar, da minha chama, a incandescência
E maturar a candidez desta inocência
Que, sem ciência, predispõe-se a se entregar
Mas numa entrega que jamais pensa em voltar
Na rota cega d´água presa a se soltar
Pois entre amar e não amar, há uma represa
Mas represar é como ir contra a Natureza
E eu que prezava a liberdade e a beleza
Preconizava a benfazeja arte de amar
Ao me entregar, o fiz sem sombra d´incerteza
Com a franqueza d´água pura, igual o ar
E nem o mar igualaria a sua grandeza
Ao me entregar, o fiz sem força ou fortaleza
Com tal nobreza, que pensar mesmo em errar
Era impureza, que corria a mascarar
Agora a dor d´inda te amar e esta tristeza
Pela frieza, que hoje vejo em teu olhar
Abrem a porta, sobre a qual mantenho acesa
A vil clareza de que um dia hás de voltar
(Djalma Silveira)