Morena

(Décima Espinela)

Ah, menina, flor de gente

és visão do paraíso...

Quando cedes um sorriso

à tristeza do vivente,

é qual água de vertente

que brota serena e pura

pra saciar as criaturas

que sentem necessidade

de beber felicidade

num lampejo de ternura.

Menina, doce menina,

possuis nos olhos mestiços

esse sublime feitiço

capaz de mudar a sina

de quem guarda nas retinas

a névoa dum mundo gris,

mas descobre outro matiz

refletido em altivez

pois quem te vê uma vez

já sabe o que é ser feliz.

Teu fascínio deixa presa

a visão de quem te olha,

que de luz se desconsola

e entontece de beleza.

Tens um tom de realeza

que no gesto se declara

e que a gente bem repara

na silhueta, quando chegas...

um perfil de deusa grega

com feições de índia rara.

De tão linda que tu és,

nem percebes, distraída,

que a brisa embevecida

Joga flores aos teus pés.

Tu passas como a maré

num compasso que ressoa

a inundar as pessoas

num mar de adjetivos,

quem te vê, fica cativo,

quem não vê... passou à toa.

Menina, bendita seja

a tua boca mimosa,

duas pétalas de rosa

perfumadas de cereja.

Quando falas, tu versejas

florescendo bem-me-quer...

Não minto, se te de disser

que quem te olha deduz

que és um anjo de luz

disfarçado de mulher.