Filme Clássico
Onde estava você enquanto eu parava à janela
Mirando os dias escorregadios de uma só forma
Forma retangular, sem o charme de grande tela
Não havia o charme da Grace Kelly ao colorido
Mas apenas o vulto dos pássaros a carregar o dia
Sem techinicolor, sem close-ups
Câmera sem foco e sem travelling
Simplesmente documental, sem drama
Mas enquanto eu olhava direto para a luz do sol
Registrando tudo sem nada de roteiro
Tentando me cegar ou me iluminar
Seus sussurros serenos centelhavam e me cercaram
Sua visagem virou minha vista à luz refletida e refratada
Você interrompeu minha perigosa e calculada brincadeira
E eu soube que podia então fechar a janela ou saltar para fora
Onde você estava quando eu não tive forças para cerrar a cortina
Com a vista cansada, condenada a ver, olhar e mirar, sem nada enxergar
Com as pernas bambas que não gostavam de se deitar
Viajando em estrépito através do silêncio ao redor
Sem sonoplastia e sem ao menos um Chaplin
Microfone surdo, pantomima muda
Apenas impressão em película, sem ritmo ou montagem
Mas enquanto eu apertava os ouvidos aos irritantes monocromos
Ouvindo tudo e sacolejando a cabeça para não formar frases
Procurando me ensurdecer ou sentir só a música
Você me trouxe a melodia em tom maior
Me virou o olhar ao movimento sem estroboscópio
E eu pude viajar serenamente por suas ondas sonoras
Sabendo poder caminhar equilibrado lá fora ou ligar o rádio ao meu lado