TARDE DEMAIS PRA NÃO TE AMAR
Se já padeço dos sintomas, não mais importam as profilaxias;
Com abaladas hierarquias, me desconheço nos próprios íntimos;
Escravizados instintos dão o tom melódico que me foge a maestria;
Vejo-me distinto do que me via, como um ébrio por teus lábios tintos!
Não resta muito a se fazer quando a razão se divorcia da ação;
E se torna impossível dizer não ao que propõe o sentimento;
Como uma folha relegada ao vento, somos o monumento da impercepção;
No cais da solidão, somos embarcação ao descomando do relento!
Quando os passos do querer sobem ao trono da autonomia;
A alegria parece se tornar sinônimo da mais gritante infantilidade;
O ego perde a própria vaidade pra venerar outra fisionomia;
E a maior das agonias consiste em lutar contra essa saudade!
Assim me rendo aos soberanos oceanos de minhas incapacidades;
Tentei fugir a essas grades, lutei profundamente em prol da indiferença;
Mas hoje a descrença em mim mesmo reflete em lágrimas covardes;
Que as altas horas já estão tardes, e todos os sintomas já são doença!