TARDE DEMAIS PRA NÃO TE AMAR

Se já padeço dos sintomas, não mais importam as profilaxias;

Com abaladas hierarquias, me desconheço nos próprios íntimos;

Escravizados instintos dão o tom melódico que me foge a maestria;

Vejo-me distinto do que me via, como um ébrio por teus lábios tintos!

Não resta muito a se fazer quando a razão se divorcia da ação;

E se torna impossível dizer não ao que propõe o sentimento;

Como uma folha relegada ao vento, somos o monumento da impercepção;

No cais da solidão, somos embarcação ao descomando do relento!

Quando os passos do querer sobem ao trono da autonomia;

A alegria parece se tornar sinônimo da mais gritante infantilidade;

O ego perde a própria vaidade pra venerar outra fisionomia;

E a maior das agonias consiste em lutar contra essa saudade!

Assim me rendo aos soberanos oceanos de minhas incapacidades;

Tentei fugir a essas grades, lutei profundamente em prol da indiferença;

Mas hoje a descrença em mim mesmo reflete em lágrimas covardes;

Que as altas horas já estão tardes, e todos os sintomas já são doença!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 14/10/2008
Código do texto: T1227811
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