Alguém canta...
Ouço uma voz ao longe. Alguém canta...
Meu ouvido procura a voz que um dia amei. Será esta?...
Será esta a voz que canta ao longe?...
Lembro relvas verdejantes
Enquanto ando por estradas pedregosas...
Tantas lembranças mudas...
Tantos sonhos que já foram...
Tantas palavras não ditas
Nestes olhares mudos
Plenos de silêncio e de canções...
A voz não sai de minha garganta.
Mas meus olhos cantam...
Lembro outros meses de outubro
Na tarde mansa...
Meus pés tinham asas para ir ao teu alcance...
Teus braços, sempre abertos, me acolhiam com ternura...
Ouço uma voz ao longe. Alguém canta...
Hoje só tenho suspiros
Que me brotam da garganta
Enquanto meus olhos produzem pérolas
“Lacrimosas...”
Quisera eu cantar... Na vida escura
Sombrios medos e lembranças doídas,
Que já se fazem enfadonhas,
Vem me importunar...
Quero o abrigo dos regatos murmurantes!
E quero neles minha sede de vida assim saciar!
No entanto, cai a tarde lentamente,
E alguém canta...
Como eu quisera cantar!...