Eu aqui, tu ai

Vamos fazer de conta

Que sou um aprendiz

Imaginemos algo de tolo:

Eu aqui, tu ai

Passam-se os tempos

A vida é uma eterna aventura

Que é desperdiçada

Quando não a levamos

Com alguma ternura

Estando

Eu aqui, tu ai

Evitamos uma memorável confusão

Pois estamos demasiado longe

Para gerarmos um tumulto

Pois a distância para nós

É a nossa bênção

Abençoada pelos Deuses do destino

Que ao colocarem anos-luz

E vários séculos entre nós

Revelaram ter algum tino

Pois nas entranhas

Do tempo que havia de vir

Viram que juntos

Só iríamos algo destruir

Por isso me fizeram poeta duvidoso

Escritor de algumas prosas

Anónimo num tempo

Em que as palavras eram rosas

Que não sairiam de nenhum colo divino

Pois os milagres estavam gastos

E coisas maravilhosas

Só na ciência

Ou na mente de um despeitado adivinho

Colocando-te a ti

Alguns anos depois de eu morrer

Juntos seríamos pólvora e fogo

Semente possível de caos

De quem nada tem a perder

Mas isso talvez seja um embuste

Dos Deuses invejosos

Pois sabiam que o nosso amor

Seria mais do que eles todos juntos poderoso

E por isso

Me deram esta maldição

De todas as que amo

Serem errantes

Serem vento que passa, que passará,

Mas que dele

Nada restará

A não ser a enorme saudade

Que eu permanente escrevo

Sendo eu por isso da escrita

Eterno servo

Porque nunca realmente te terei

Dedicando-te no entanto

Tudo o que faço

Sou ou serei

Enquanto me limito a imaginar

As palavras doces e meigas

Que a tua boca diz

Algures no futuro:

Eu aqui, tu ai

Algures em Janeiro de 2006

Poema protegido pelos Direitos do Autor