"Encontro de Amor num país em Guerra"

Poema baseado num belo e triste conto do meu escritor favorito(ao qual "pedi emprestado" o titulo), meu camarada de sentires e de palavras que um dia, numa sessão de autógrafos a alguém meu conhecido, e quando essa pessoa lhe falou de mim, ele disse que eu nunca deveria parar nem de sonhar nem de escrever, mandamento que seguirei religiosamente até ao fim dos meus dias

A Luís Sepúlveda

“ENCONTRO DE AMOR NUM PAÍS EM GUERRA”

Um beijo ardente de desespero

Com sabor à morte

Que bem perto nos espera

Tudo não passa dum

Encontro de amor num país em guerra

Vivíamos num altura em que as noites

Não eram iluminadas pelas estrelas

Substituídas por explosões de demasiadas cores

Mas a noite é a noite e mesmo assim era bela

Camaradas imensos

Numa causa que muitos consideravam vã

Lutávamos por imensas coisas

Mas sobretudo pelo liberdade do Dia de Amanhã

Aprendi na batalha

A disparar sobre quem em tempos estimei

Seguindo a dura lei da morte

Essa regra respeitei

Vivia pois num limbo entre as trevas e a luz

Sonhando por um lampejo de paz, um suspiro de calma

Que encontrei por acaso

Primeiro no teu corpo, depois na tua alma

Tudo começou numa mera partilha dum cigarro

Numa pausa do inferno

Trocámos sorrisos

E algo surgiu que de imediato quisemos eterno

No pouco que ouvi de ti, falaste-me da tua dor

No teu olhar vi uma tortura indizível

Para ti era apenas mais uma guerra

Na tua luta pelo impossível

Porque nasceste com a necessidade

De sonhar pelo inalcançável

Envolvendo-te com quem te prometesse esse céu

Gente pouco recomendável

Matas-te pois e morreste

Em todos os cenários do mundo

Mas tudo para ti era uma nebulosa

Tudo em ti ainda era demasiado confuso

Por estranho que pareça

Nunca tinhas amado ninguém

Gostado sim,

Mas o amor de ti estava além…

Num local que também procuravas

Mas que não tinhas encontrado

Ele nasceu por acaso

Quando estavas a meu lado

Nunca cheguei a saber

O que de facto tinha de especial

Trocámos sobretudo carícias e olhares

Sendo as palavras um pecado mortal

Pecando por isso

Quando estavas à beira da desesperança,

Eu era o teu abrigo na tua luta

Contra a loucura, derradeira esperança

Nas casas em ruínas

Explorámos a nossa intimidade

Criando um mundo à parte no meio das trevas

Fazendo nascer uma espécie de felicidade

Que morreu num dia

Mais escuro que todos os outros

Dia em que se apagou a tua chama

Em que por fim morreu a tua dor

Algures no meio de balas anónimas

Ficou alguém que ainda hoje a minha alma clama

Perdi a noção de tudo

Mesmo a vontade de te vingar

Queria-me livrar de tudo

De tudo me afastar

Pois sentia em mim um demónio latente

Uma indomável fera

Que desapareceria no meio da paz

Pois lá não se podia alimentar

Ficando apenas em mim a eterna recordação de ti, um:

Encontro de amor num país em guerra

Poema protegido pelos Direitos do Autor