SE FOR AMOR
Terá que ter brotado da mais inesperada despretensão;
Sem discernir sua própria distinção, sem alvará e nem requisito;
Ser aquele estalo ou grito que só percebe a introspecção;
Visita em forma de injeção, pouca atenção ao que for dito!
Terá que se encaixar nas fendas do que ao outro falta;
E ser escada alta, que sempre eleva e nunca declina;
Terá que aprender mais do que ensina, do palco ser ribalta;
Ter a outra metade sempre em pauta, jamais negar o roteiro que assina!
Terá que de bom grado legar proximidade e primazia;
Doar além do que previa, pra ter estoque de sobra em dia mal;
Ser sempre sal e nunca abdicar da missão que o alumia;
Construir o que o outro jamais seria, vencer todo opositor fatal!
Terá que desejar ardentemente e vestir o cotidiano de sensualidade;
Ser escravo da verdade e não fugir aos versos que já declamou;
Renascer no ponto em que tombou, se reiniciar a partir da infinidade;
Porque se perecer com a idade, terá sido mera vaidade, mas nunca um verdadeiro amor!