Sensual II


Queria ser Pássaro dentro da noite,
Queria voar e te encontrar bailando,
Queria um poeta de bota e açoite,
Queria deitar em teu corpo, flertando.

Podia ser Vento em tempo de inverno,
Podia ser Sul e teus medos o Norte,
Podia cantar pelas trevas do Inferno,
Podia tocar no teclado da sorte.

Havia verdade nas minhas palavras,
Havia emoção nos meus pobres encantos,
Havia certeza nas frentes caladas,
Havia teus beijos em campos e cantos.

Sabia impossível te ter num lamento,
Sabia tocar violões em serestas,
Sabia ser tudo, no ventre, tormento,
Sabia ser mudo em bares e festas.

Queria poder te abraçar sensual,
Queria chover em folclores de lua,
Queria tuas formas, mulher ideal,
Queria te ver em delírio tão nua.

Corria de tédio, se ausência tivesse,
Corria e de amor em teus pés morreria,
Corria nas sombras, se luta houvesse,
Corria e caía: que luxo seria!

Fazia teu mundo chocar-se com o meu,
Fazia poções de cobiça e prazer,
Fazia teu corpo perfeito ateu,
Fazia o que um sábio precisa aprender.

Trazia recheio ao teu pobre viver,
Trazia vontade de amar num instante,
Trazia desejos de bem renascer,
Trazia livretos de ser teu amante.

Queria te dar liberdade ao extremo,
Queria enxugar tuas lágrimas puras,
Queria provar que te amo e não temo,
Queria ter sorte e te amar nas alturas.