A QUEM NUNCA VOU TER

O modo detestável de se levantar

e nem perguntar se incomoda

a quem como eu te olha...

A maneira de dizer as coisas

afirmando a própria incerteza

em vez de dizer simplesmente

que não sabe.

O jeito de dizer ora que não dá

E ora, sob teu melodrama,

que tudo cabe.

A facilidade de mentir lindamente.

A ingenuidade subjacente em

tuas ações ditas sacanas.

E minha gana de ser vítima tua.

Minha facilidade de te perdoar

ainda que não tenhas tido chance

de saber que erras comigo.

Minha admirável e terrível faculdade de ver

na seara cândida do teu cabelo

todo o prazer que o sexo pode dar.

Minha vontade de rir

diante do quanto que come,

me invade, me desnuda e assopra...

Meu modo de te inventar

por minhas hipóteses.

Minha loucura de sugerir

pelo teu rosto um nome.

Tua aliança.

O quê burguês que te faz meu fetiche

Teu romantismo importado

que de Hollywood é pastiche.

A impossibilidade de o espelho

a reproduzir com tanta perfeição

quão sente a tristeza ao ver-te partir

o meu coração.