HOMEM TAMBÉM AMA

Como se fora o inverno a irromper sem permissão os dias da primavera;

Como uma fera vencida pela fome e guiada pelo desatino;

Como um menino, que se julgava bem oposto a tudo que era;

Como o pranto silencioso da capela, andarilho veloz e sem destino!

Como a solidez que se desfaz em líquidos, mas se presume gás;

Como um incapaz, que desanda por conta de seus próprios passos;

Como o rei dos embaraços e ator do papel que não convence jamais;

Como a inocência voraz e o pássaro de asas em laços!

Como a sombra covarde que chora às escondidas;

Como o fugitivo das feridas e ao mesmo tempo regador da cicatriz;

Como o discurso feliz que se maquia de forjadas palavras perdidas;

Como o fracassado Midas, iludido pela tristeza motriz!

Como quem nunca pensou que pudesse tamanhamente amar;

Como um mudo a se expressar, sinalizando o dialeto que tanto ignora;

Como a criança que chora, julgando impossível ter que desmamar;

Como um tolo a errar, que nem saber lutar, pelo amor que implora!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 03/10/2008
Reeditado em 05/10/2008
Código do texto: T1209241
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