HOMEM TAMBÉM AMA
Como se fora o inverno a irromper sem permissão os dias da primavera;
Como uma fera vencida pela fome e guiada pelo desatino;
Como um menino, que se julgava bem oposto a tudo que era;
Como o pranto silencioso da capela, andarilho veloz e sem destino!
Como a solidez que se desfaz em líquidos, mas se presume gás;
Como um incapaz, que desanda por conta de seus próprios passos;
Como o rei dos embaraços e ator do papel que não convence jamais;
Como a inocência voraz e o pássaro de asas em laços!
Como a sombra covarde que chora às escondidas;
Como o fugitivo das feridas e ao mesmo tempo regador da cicatriz;
Como o discurso feliz que se maquia de forjadas palavras perdidas;
Como o fracassado Midas, iludido pela tristeza motriz!
Como quem nunca pensou que pudesse tamanhamente amar;
Como um mudo a se expressar, sinalizando o dialeto que tanto ignora;
Como a criança que chora, julgando impossível ter que desmamar;
Como um tolo a errar, que nem saber lutar, pelo amor que implora!