RECORDAÇÕES... (RETRATAÇÃO... E RESPOSTA)
Eu:
Revendo velhos papéis
Amarelados no tempo,
Encontrei velhos cordéis
Pra surpresa e contra-tempo...
Neles, meu poeta dos sonhos,
Escreveu retratação...
Que fez meus olhos tristonhos...
Foi pedido de perdão?...
Transcrevo, em minha ternura,
Declinando o nome amado,
Re-vivendo com doçura
A missiva do adorado:
Ele:
- Lamento ser hoje objeto
De tão tristes poesias...
Eu as leio e fico quieto;
Esperanças são vazias...
Reflexos são de um momento
Em que não consegues ler
Nos meus olhos, sentimento,
Que não te posso dizer...
Talvez também não consigas
Ver que há em mim sofrimento...
Eu ouço as cantigas todas
E não as jogo, eu, ao vento!...
Talvez não saibas que dói
O meu ficar tão distante,
E a amargura corrói
A indiferença constante...
Talvez não consigas ler
O que meus olhos querem te dizer...
Eu:
Talvez teus olhos não queiram ver
O mal que fizeste em meu viver...
Ele:
A ti, eu levei a luz!
Mas também a escuridão!
O teu olhar não reluz,
Nem crês na minha afeição!
Quis te trazer alegria
Mas não tinha esse direito!
Talvez agora, teu dia,
Se envolva em mais sofrimento...
Eu:
Agora, Anjo meu, te respondo:
Fizeste mais mal que bem!...
A minha dor eu escondo
E a tua, escondes também...
Sofro por mim e por ti
E sofro ainda mais, ainda,
Por ver que fui e senti
Do amor a chama mais linda...
Lamento o que se passou,
Mas guardo minhas lembranças...
... E a vida que se acabou
Da qual não te fiz cobranças...
Só tenho um sentimento
De profundo desamparo:
Meu ídolo, pra meu tormento,
Tinha os seus pés só de barro!...
Eu, palavras finais:
E como todas as coisas em falsas bases, construídas,
Ao menor toque do vento, o ídolo desabou...
Partiu-se em mil pedaços e cobriu-me de feridas...
Partiu, caminhou para longe...E nem um adeus esboçou...
E como retratação
Ou pedido de perdão,
Vem a velha poesia
Cair, logo em minha mão,
Pra atormentar o meu dia...
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