Carta ao filho amado

Meu filho

Te sonhei desde menina

E nem sabia que podia

Pré-abençoar-te

Nascerias de um bigbang airoso

Minhas noites insones seriam

Meu descanso no teu regaço

Meu porto

Tangendo teu bem-estar

Noite e dia

Aconselhar-te-ia

Quando preciso fosse

Não te incutiria medo de nada

Te faria conhecer o Deus

Que, se para o mundo,

Parece morto ou é outro

Para ti, como para mim,

Sempre viveu

Teu pai

Escolheria entre os mais capazes

E jamais, nem em pensamento, entre homens

De suspeito caráter

Tua alimentação buscaria

Na primitiva pecuária

E rudimentar agricultura

Mesmo que para isso tivesse

Que fazer retroceder a tecnologia

E, de meu país, atrasada

A economia

Se alguém porventura te ofendesse

Eu, com um só bit de pensamento,

De pronto o fulminaria

Não te deixaria contaminar

Com nada

Teus pecados

Eu os cometeria

Para que sobre ti

Colheita má alguma

Reivindicasse direito

De angústia lançar-te

Apenas das boas obras

Te permitiria a prática

Como vês, meu filho,

Te cerquei de toda proteção e carinho

Até oração por tua vida além

Já elevava aos céus continuamente

Mas, afinal, a lucidez, acordando,

Para melhor te proteger

Amadureceu redoma eterna

(um minarete angular)

Me convenceu de que tua felicidade

Nem de longe estaria

Em esta Terra visitar

Transcendi assim

O amor devido a ti

Dei-te o melhor que uma mãe

(sagaz)

Ao filho amado pode dar:

Amá-lo ao ponto de nunca,

Jamais (para este e) neste mundo

Esse amado filho gerar

Sem mais, espero que me compreendas

De tua concepção,

Abortei apenas o anteprojeto

E não o desenvolvimento

Janete Santos
Enviado por Janete Santos em 29/09/2008
Reeditado em 24/07/2021
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