APAIXONADA

Vens e dizes estar

Dissolutamente apaixonada.

Que sou tua reta e indivisa vida,

Que todas as tuas pertenças

São agora minhas pertenças:

Teu riso incontido,

Tuas lágrimas safíricas,

Teu sexo sequioso,

Teus descaminhos justos,

Teus arrependimentos tolos,

Teu coração indômito...

Até tuas mais incertas tristezas

Juras que me pertencem.

Juras que me pertencem

Todas as tuas juras.

E fico eu cá no meu canto

Tentando buscar a razão disso tudo.

O que em mim pode ter te encantado tanto,

Se sou, dentre os grãos dourados

Da areia da praia, o menorzinho

E você quase contém o mar todinho

Apenas em um único e terno olhar?

Teria sido a poesia que fingi escrever,

Ou os encantamentos delatores

Que de meus olhos escaparam

A primeira vez que te encontraram

Vestida de primavera e sol?