CINDERELA INSONE

MADRUGADA AFORA,

EU VASCULHO OS BAÚS DE TEU SÓTÃO,

MÃOS ÁGEIS EM ABSORTA BUSCA,

MENTE INFINDA EM ABISSAIS

QUESTÕES DE SENTIR DO SELF.

O AR FLUI GÉLIDO,

ESPECTRAL,

FORMANDO IMAGENS EFÊMERAS,

ESPELIDAS DE MEUS LÁBIOS ENTRE OS DENTES.

CONFIGURAÇÕES DANÇANTES EM SILENCIOSA MÚSICA.

LEIO MISSIVAS PRETÉRITAS DE TEU CORAÇÃO,

DESTINADAS A OUTREM.

SINTO ARREPIOS E SILÊNCIO A MENTE,

O CORPO EM ESTADO DE TORPOR,

OS OLHOS MEDITANDO PALAVRA POR PALAVRA...

AS CORONÁRIAS AGORA SÃO ATÔMICAS,

EXPLODINDO EM ALTA VELOCIDADE,

E CADA FRASE ECOA COMO PRINCIPIO DE LOUCURA.

ENTÃO, ME ERGO ATÔNITA,

ANSEIO TE VER,

APROFUNDAR-ME EM TEUS OLHOS,

LÊR TUA ALMA,

E OUVIR TUA BOCA DIZER

QUE ESTE PASSADO NÃO TE ATINGE MAIS.

MAS COMO OUSAR?!

ESTOU PROFANANDO TEU TEMPO SAGRADO,

MEMÓRIAS, ESTIGMAS...

NÃO DEVO TOCAR A CICATRIZ...

NÃO POSSO!

É TUA HISTÓRIA DE DIREITO,

TUA CANÇÃO ABAFADA,

MAS NÃO MORTA...

TU ESCREVESTE:

“... E DESSE AMOR EU JAMAIS ME LIBERTAREI...”

E A FORÇA DE TUAS PALAVRAS É ORAÇÃO,

JURA SACRAMENTADA A SANGUE E FOGO...

SABER DISSO, ME TRAI EM VASSILOS.

POR QUE ATRAVESSEI O PORTAL?

AGORA A TI ME ENAMORO...

ADENTRASTES O MEU CORAÇÃO

COMO UM PUNHAL,

E TUA RETIRADA ME É FATAL.

NO ENTANTO,

TU NÃO TE DESTINAS A NINGUÉM,

E TEU ESPÍRITO NÃO PODE SER VIOLADO.

ESCREVO-TE AGORA,

INSONE,

TAL CINDERELA QUE ESPERA ACORDADA

O BEIJO DO DESPERTAR.

SEM SABER DO FUTURO

QUE A AGUARDA,

SE, PIRA AO VENTO

OU BAÚ DE SÓTÃO...

Paris, 2008