A Sétima Lágrima
A primeira lágrima que derramei
Nem lembro direito: foi quando nasci.
Talvez neste dia decerto chorei
Porque as tristezas da vida previ.
Depois, a segunda foi pra anunciar
Que estava com fome, com frio ou com dor.
Bebê que eu era, sem saber falar,
Diziam as lágrimas a meu favor.
A terceira lágrima foi motivada
Das sovas que levei: tempos de menino.
- Modo de conter-me, criança levada-
Ensinando a ser bom desde pequenino.
A quarta lágrima derrubei após
Descobrir que os homens são fracos viventes
Que estão juntos e logo ficam sós.
- Chorei quando a morte levou meus parentes.
A quinta lágrima foi ao descobrir
A marca que eu levo pela vida inteira.
De quando, um dia, eu cismei de abrir
A poesia de Manuel Bandeira.
A sexta lágrima foi que doeu mais
- Ah, dor do amor! Ingrato fogo que dói!-
Incauto apaixonado, sofri demais
Com a desilusão, verme que corrói.
A sétima lágrima salvou-me a vida.
E fez nascer o sol da perseverança
E vi que o amor é poesia vivida,
Fim da tempestade, tempo de bonança.
A sétima lágrima foi de alegria, ao conhecer Deus em seu coração!